Economista Patrícia Palermo reuniu-se com o setor moveleiro para pontuar as expectativas de crescimento para os próximos anos
Atuando como indutor da economia desde a segunda metade do governo Lula, o Estado, aos poucos, renunciou à política econômica que sustentava as transformações responsáveis por colocar um novo Brasil diante do mundo. Ao abandonar o câmbio flutuante, a meta de inflação e o superávit primário, que propiciavam maior previsibilidade no plano econômico, o governo promoveu uma reviravolta na condução da política econômica. As consequências dessa postura foram apresentadas pela economista Patrícia Palermo em palestra promovida pelo Sindmóveis na última terça-feira, 31 de março.
Para a economista, que integrou a equipe responsável pela Agenda 2020, o erro de conduta teve início com as medidas tomadas para minimizar a crise de 2009. Segundo ela, o governo deveria ter se retirado do controle econômico quando a crise cedeu, permitindo à iniciativa privada um crescimento horizontal. Em vez disso, a nova matriz econômica implantada, sobretudo, pelo governo Dilma envolvia juros baixos, superávit primário flexível, permitia que o governo gastasse e manipulou o mercado de câmbio com presença permanente do Banco Central.
Economia fragilizada
Em 2010, políticas específicas ajudaram a tirar o Brasil do centro da crise, mas, ao permanecer tomando os mesmos remédios, as consequências foram uma onda de baixo crescimento. “A diferença entre o remédio e o veneno é a dose. A economia passou a refletir a política econômica e o mundo viu a economia brasileira se fragilizar”, pontua Patrícia.
Nesse momento, o mercado de trabalho está no seu limite e o setor mais afetado foi a indústria, pois é o que mais sofre com a concorrência internacional. Também os serviços, que durante muito tempo foram o motor do crescimento, já não conseguem crescer na mesma medida. “Hoje, a inflação está alta, com grande contribuição da energia e combustível. Os juros estão nos maiores níveis da história recente. O crédito não cresce em termos reais e o mercado de trabalho dá sinais de deterioração. A crise econômica alimenta a crise política e enfraquece as condições de governabilidade”, detalha a economista.
Apesar das baixas expectativas para 2015, segundo Patrícia, o ajuste fiscal é necessário e urgente para que não perdurem os níveis reduzidos de crescimento nos próximos anos.
Mais sobre a palestrante
Economista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Patrícia Palermo é mestre e doutora em Economia Aplicada pela mesma universidade. Foi duas vezes prêmio “Jovem Pesquisador UFRGS/CNPq” na área de sociais aplicadas. É uma das autoras do livro “A crise econômica internacional e os impactos no Rio Grande do Sul”, primeira publicação em língua portuguesa a estimar os impactos da crise financeira internacional 2008/2009 e do livro “O Rio Grande tem Saída?”.
É professora da ESPM Sul, das Faculdades São Francisco de Assis e da Uniritter. Professora da Perestroika Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e São Paulo. Foi economista da equipe que elaborou a Agenda 2020. Atuou como economista da FIERGS por sete anos e desde 2011 é Economista-Chefe do Sistema Fecomércio-RS/Sesc/Senac.
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